sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Brasil Poeira


São quatro horas da manhã, é possível ouvir ao longe o despertador em seu poleiro anunciando a chegada de um novo amanhecer. Lá na casa começam os primeiros movimentos, a brasa da noite que passou, ainda morna, repousa no fogão. O mancebo aguarda o coador com o pó para fazer o café de mão do início da nova jornada. O cheiro delicioso já toma conta do ambiente, uma mistura de orvalho e café novo.
No quintal o melhor amigo se espreguiça e aguarda seu dono, ansioso para ir pulando alegremente trabalhar.
O sanhaço, o cuitelo, a maitaca e os demais cantores e operários de penas se espicham lá nos galhos. As criações, no curral e pastos, começam a se movimentar...
Tudo no sertão já está iniciado quando lá no horizonte surge o sol para nos visitar.
Quando a manhã clareia, revela segredos escondidos pela noite, as gotas de orvalho dão um brilho especial à paisagem verde.
Na hora do almoço, vem o menino trazer a bóia bem feitinha, com carinho e com amor da sua querida cabocla. Para outros a matula aguarda ali no arreio ou na sombra de uma árvore. E o dia passa rápido. O suor, calor, mormaço acompanham por todo o dia esse brasileiro trabalhador que é conhecido por roceiro, lavrador, carreiro ou peão de boiadeiro. Pessoas humildes e simples que vivem lá distante, ao pé da serra do, por muitos desconhecido, sertão.
A noite já vem chegando, o caminho de volta para casa, ou galpão, é tranqüilo. O cansaço no corpo é recompensado pela brisa fresca e o início do luar; chega em casa e se alegra com o cheiro da comida que a cabocla deixou pronta no fogão. Toma um gole da sua pinga preferida, janta e em seguida se ajeita na varanda, quintal ou mesmo na soleira da porta, aperta seu cigarrinho de palha, pega sua viola bem afinada e convida a natureza para com ele duetar.
Esse era o dia que essas pessoas privilegiadas levavam muito antes de o asfalto cobrir nossa história, antes de a buzina substituir o canto chorado do carro de boi, antes de o peão perder seu emprego para o motorista da jamanta...
Hoje restam saudade e recordações; não se vêem mais luar, boiadas, orvalho e alvorecer. A vida se tornou rápida e dinâmica.
Mas em algum lugar ainda existe a faísca do sertão passeando pelos trastes de violas que cantam com maestria essa história tão rica do nosso país, violas que podem estar nas mãos de um velho peão aposentado, de um professor, de um simples violeiro apaixonado ou até mesmo nas mãos promissoras de um menino simples...
Violas bem afinadas de um Brasil caboclo que não deixou que o progresso enterrasse essa história; violas que não permitem que a vida seja passageira, violas de um BRASIL POEIRA.


Por César Pequeno
09/12/08

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